segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Crenças autolimitantes


Um dia desses, uma pessoa com deficiência disse que deveríamos saber os lugares que poderíamos ou não frequentar. De acordo com ele, sua mãe lhe ensinou os lugares onde ele poderia ou não ir, para que ele não fosse um empecilho aos demais que estão à sua volta, e que nós, deficientes que buscamos tudo que é direitos, deveríamos nos colocarmos em nossos devidos lugares.

Fiquei me questionando se realmente essa pessoa estava certa, uma vez que a sociedade faz o tempo todo com que nos sintamos um trambolho na vida dos que nos cercam. Claro que o chapéu não serviu pra mim, pois minha família sempre fez com que eu me incluisse na sociedade onde vivo; mas fiquei pensando se não exigia demais de quem estava a minha volta. Então, resolvi questionar os grupos do facebook voltados para pessoas com deficiencia sobre o assunto.

Para minha grande alegria, percebi que não estou errada, e que o deficiente pode sim escolher o lugar onde quer ou não ir e exercer seu direito de ir e vir, como qualquer pessoa. É claro que alguns programas farão com que não nos sintamos assim tão incluidos, mas isso vai da visão de cada um sobre o assunto, vai da escolha pessoal. Eu, por exemplo, não me sinto nada incluida em uma baladinha, por isso, não frequento.

Mas essa opinião do moço me fez pensar que ainda, por incrível que pareça, vivemos em uma sociedade extremamente preconceituosa e limitadora, onde os próprios pais ensinam os filhos a se autolimitarem. E isso ocorre com muitos de nós, de forma velada, durante nossa vida, desde a infância. Quantas vezes já ouvimos de nossos pais que não podemos fazer determinada coisa, mesmo antes de tentarmos? E se tentássemos fazer, ouvíamos: “depois não reclama se te machucar, não diga que eu não avizei!”. E crescemos com aquela idéia na cabeça, de que aquilo não é pra nós, de que aquilo não podemos fazer.

Ao longo da vida, as limitações se tornam tão grandes que muita gente acaba com problemas psicológicos, pensando que nada podem ou nada conseguem. E então surge a dependência e a co-dependência, ou seja, o filho sobrecarrega o pai, pois acredita que não pode fazer nada sem ajuda; e o pai depende da agenda do filho, ou adecua sua agenda para atender ao filho, já adulto, que poderia muito bem viver sua vida sozinho.

Isso não significa que somos total e completamente independentes e que não precisamos dos nossos familiares para nada; e também, querer viver nossa vida não significa ingratidão. Significa simplesmente que crescemos e queremos exercer nossa independência, como qualquer outra pessoa sem deficiência. E como os pais ficariam tão menos sobrecarregados se se dessem conta de que seus filhos são deficientes sim, mas não são seres irracionais, disprovidos de inteligência e que não podem fazer suas próprias escolhas ou discernir entre o bem e o mal.

Lutemos pela nossa independência, por nosso direito de escolher onde ir, por nosso direito de fazer nossas próprias escolhas; e principalmente, lutemos para que a sociedade veja nossas capacidades, e não nossas deficiências.

 

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